Houve até uma ocasião em que Silvio Santos colou na testa uma figurinha do grupo, que havia sido contratado para fazer propaganda da Tele Sena. “Olha o Restart aqui”, disse o “patrão” às colegas de trabalho, durante seu programa dominical, apontando para a figurinha. “Que Roberto Carlos nada”, afirmou Silvio. “Meu negócio é com esses daqui, ó.” A utilização da imagem do grupo – cujo público-alvo são adolescentes – numa campanha de títulos de capitalização gerou polêmica e foi retirada do ar pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar).
Independentemente do possível exagero, o episódio foi mais uma demonstração do poder midiático do Restart, um conjunto juvenil fundado em 2008 que é um fenômeno do mundo dos negócios. Com mais de 500 itens licenciados, entre camisetas, relógios, celular e até edredon, a marca Restart já movimentou R$ 200 milhões no varejo nos últimos dois anos, segundo a empresa Angelotti Licensing & Entertainment Business. O grupo também reforça a conta bancária com campanhas publicitárias, patrocínios, loja virtual própria, shows, CDs e DVDs, entre outras fontes.
A capacidade de gerar receita é tamanha que a banda lançou, em 2010, o livro Restart – coração na mão, a história completa da banda (Editora Benvirá, do grupo Saraiva), que vendeu 50 mil exemplares, algo extraordinário para os padrões do mercado editorial brasileiro. O segundo título, De carona com o Restart, já está a caminho. Fotográfica, a obra é editada pela Planeta e será lançada na Bienal do Livro, em agosto, com tiragem de 50 mil cópias. As investidas de marketing terão mais um capítulo em breve. O Restart será protagonista de um longa-metragem dirigido por Heitor Dhalia, de O cheiro do ralo. Como o projeto está na fase de captação de patrocínios, ainda não há uma data de lançamento definida.
GERAÇÃO DIGITAL Se hoje o grupo é um estouro midiático, há um aspecto que torna a sua história muito peculiar: trata-se de uma banda tipicamente da geração digital. O Restart alcançou o sucesso graças às redes sociais e hoje mescla em suas estratégias o uso das mídias digitais e ferramentas tradicionais do show business, como tevê, rádio e merchandising. A palavra “estratégia” não é usada por acaso. Embora tenha alcançado um relativo sucesso de público de modo independente, foi a partir do momento em que encontrou um cérebro empresarial que a banda explodiu. No caso, o cérebro atende pelo nome de Marcos Maynard, sócio da Maynard Enterprise, agência paulistana de gerenciamento de carreiras de artistas.
Ex-presidente de grandes gravadoras como PolyGram, CBS e Sony, Maynard conheceu o Restart em 2010, quando recebeu um CD da banda das mãos de uma amiga. Curioso, foi assistir a um show dos meninos. E se surpreendeu com a reação da galera ao hit virtual Levo comigo. “Vi meninas enlouquecidas, chorando e cantando a música de caras que não tinham tocado em nenhuma rádio do planeta”, afirma Maynard. Dos artistas com quem trabalhou, ele diz ter visto um frenesi desse tipo só com o Paulo Ricardo, vocalista do RPM, e Xanddy, do Harmonia do Samba. “Isso sem falar em Menudos, Dominó e, claro, nos Beatles, o maior fenômeno de fãs de todos os tempos”, diz.
Depois de testemunhar o poder de atração do Restart, Maynard contratou a banda e a levou para um estúdio. “Pensei na época: se com uma música mal gravada eles já tinham quase um milhão de acessos no MySpace, imagine quando isso for feito com um tratamento profissional?”, diz Maynard. Hoje o grupo registra mais de 70 milhões de acessos no YouTube. A força do Restart na rede é parte fundamental no plano traçado por Maynard, que cuida de todo o processo de negócios, passando pela divulgação, agenda de shows e negociações publicitárias. Os resultados não demoraram a aparecer. Lançado em 2009, o álbum de estreia do grupo, que leva o nome da banda, recebeu discos de ouro e de platina pelas vendas de 150 mil cópias.
Os shows começaram a pipocar pelo Brasil inteiro. A gravação de nove músicas em espanhol garantiu novos fãs, aparições na tevê e shows no México, na Argentina e no Uruguai. Além disso, a banda foi a grande vencedora do Video Music Brasil (VMB) no mesmo ano, promovido pela MTV. Em Recomeçar, eles cantam: “E hoje sei, sei sei/ não importa mais/porque não vai, vai, vai/voltar atrás/o que restou em mim.” “Muitos dizem que o Restart faz letras medíocres e que não sabe tocar, mas não é bem assim”, diz Maynard. Na avaliação do empresário, eles escrevem sobre a realidade dos fãs. “Nos anos 1960, os Beatles escreviam letras simples sobre o amor”, afirma. A ideia de fazer um longa-metragem com o Restart foi inspirada nos quatro garotos de Liverpool.
NASCE UMA MARCA Com o aumento da visibilidade, iniciar a venda de produtos licenciados foi um passo. A empresa contratada para essa empreitada foi a Angelotti. “Quando iniciamos o projeto, em 2010, eles já faziam um sucesso impressionante na internet”, afirma Luiz Angelotti, sócio da licenciadora. Mesmo assim, foi difícil convencer as redes varejistas e as empresas de que valia a pena investir na marca Restart. Motivo? O grupo nunca havia aparecido na televisão. “Na época, as redes sociais não estavam no radar dos presidentes de empresas, como acontece hoje”, afirma Angelotti.
Com o sucesso, foi criada uma loja virtual, a Restart Shop, para comercializar os produtos, algo incomum no universo musical. O quarteto também engorda a conta bancária participando de campanhas publicitárias. Em 2011, participou de uma ação de marketing da linha de sucos Skinka, do grupo Schincariol. As redes sociais foram fundamentais na campanha. Se é verdade que o Restart tem em Maynard o seu Brian Epstein, o empresário que impulsionou os Beatles, também é preciso lembrar que os garotos não estão alheios à própria carreira. Antenados, opinam sobre o que vão vender. “Temos controle de tudo”, diz Pe Lu. “Assim como a música, os produtos também precisam ter a nossa cara.”
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